Em
2002 e 2006, o projeto SIAM, coordenado pelo catedrático Filipe Duarte Santos,
da Universidade de Lisboa, publicou dois relatórios sobre cenários para o
futuro climático do nosso país, utilizando a mais avançada metodologia
científica. Algumas das antecipações indicadas coincidem com a realidade de
2012, desde a dengue da Madeira à multiplicação de fenómenos meteorológicos
extremos, onde se incluem os tornados, mas também as ondas de calor e as chuvas
torrenciais. O que está em causa não são acontecimentos naturais em sentido
estrito. Nos últimos dois séculos, a industrialização alterou profundamente a
composição química da atmosfera, injetando-lhe quantidades astronómicas de
gases com efeito de estufa, indutores do aumento da temperatura média na
superfície e nos oceanos. O fulcro da questão é a incapacidade geral dos
governos se libertarem dos grupos de pressão ligados aos interesses mais
sórdidos no âmbito das energias fósseis e dos petrodólares. Em Portugal, para
não ir mais longe, o Governo tem vindo a atacar o sector das energias
renováveis por uma querela de tarifas, esquecendo que as renováveis são uma das
chaves de um futuro sustentável. As alterações climáticas trazem consigo um
aumento generalizado dos riscos. Teremos de construir, trabalhar e viajar de modo
diverso. A governação, internacional e nacional, terá de mudar radicalmente se
quisermos sobreviver. O conhecimento e a visibilidade deverão prevalecer sobre
a ideologia e o clientelismo. Começar a falar verdade será um bom primeiro
passo.
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